Ana, sob um longo suspiro, apoiava suas malas no chão.
Eram 18h30 pelo relógio da estação.
Olhando tudo em volta, como quem busca algo familiar, sentou-se.
Havia feito uma longa viagem, passado dias e noites de expectativa, imaginando o que a aguardaria na chegada.
Que cansaço, quanto barulho! - pensava ela. Quanto tempo a olhar tudo pela janela. Mas, agora, os tempos hão de ser outros.
E depois de muitas horas de espera, um sorriso largo, muito expressivo, embora nada familiar, mostrava-se diante de seus olhos.
- Olá! - adiantou-se Ana.
- Oi! - respondeu receptivamente a senhora a quem se dirigia.
Há muito aguarda por aqui?
Há muito aguarda por aqui?
- Sim...
- Aproveitastes para apreciar o jardim? - continuou a figura grisalha, curiosamente.
- Na verdade, não. Estou muito ansiosa. Acho que as novidades, no geral, mais assustam-me do que qualquer outra coisa...
E fitando-a com ares de quem já havia tido como íntimos todos aqueles medos, a estranha senhora continuou:
- Não habituara-se ainda a apreciar as belezas do novo? Digo, tudo que é novo inspira-nos relativa insegurança, mas que pode ser contornada se colocarmos nosso coração no vasto horizonte que se abre. É a possibilidade de um outro futuro. Diferente. Cheio de boas novas, dizia animadamente.
Ana, mais uma vez, suspirava... e sorria-lhe meio desentendida.
- Desculpe não ter me apresentado, disse a cinquentona, ajeitando os cabelos acinzentados. Chamo-me Cora. E você?
- Ana. - respondera sorrindo. Sinto-me mais tranquila. Muito agradável conversar contigo, D.Cora. E a senhora, está chegando... ou partindo?
E, rindo sem graça, Cora respondeu:
- Na verdade nem indo, nem vindo. Foi que viciei-me na pipoca do Sr. Armando. Se passo por aqui em meu retorno para casa, não resisto, falava ainda entre risos. E hoje, vendo-te com ares aflitos, arrisquei dirigir-me a ti.
- Ah que fizestes muito bem, D.Cora. Penso que nada nesta vida é acaso e, certamente, o severo atraso de quem aguardo, fora providencial, possibilitando nosso encontro tão proveitoso.
Sorriam as duas.
Ana, agora entre suspiros mais leves, arriscava provar o doce da pipoca que lhe era oferecida.